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CONTRA GUERRA

A atual guerra Rússia X Ucrânia é o absurdo que marcará a nossa geração. É o horror materializado, a civilização humana atacada em seus próprios fundamentos.

 

É preciso enfrentar o fato trágico de que a Guerra implica crimes que não apenas atingem a todos nós, direta ou indiretamente, mas produzem uma realidade onde nós também nos tornamos responsáveis por ela. Se todos somos uma só humanidade, e se cada homem ou mulher representa o gênero e a espécie, então nós todos, quer dizer, o humano, se vê retornando à barbárie. 

E isso hoje, 2022. A guerra nos reconduz à pré-história. A barbárie consiste, principalmente, na não contenção dos impulsos destrutivos. Nós, todos nós, estamos permitindo essa regressão, esse retrocesso à animalidade. Não, não à animalidade, os animais são bravios, mas não são cruéis; matam, mas não torturam, não estupram, não negam o outro, seu igual.  

A guerra nos desumaniza a todos, porque a guerra é a negação do humano. Do Humano com maiúscula. 

Precisamos barrar a Guerra. Protestar contra ela de todas as formas, em todos os ambientes, com todos os meios. Guerra, não! A guerra não mata só ucranianos, russos, iemenitas, hutus, tutsis, yanomamis, etc., a guerra me mata, te mata, nos mata. 

Por isso a recusa tem que ser a mais radical: não queremos a Morte, não queremos a Guerra. Não à Putin. Mas não também a todos que estão lucrando com a guerra: negociantes de armas, banqueiros, mercenários, etc., todos aqueles que querem e praticam a morte. Queremos vida, e vida com dignidade. 

Nós somos profissionais de saúde mental. Mas como sustentar a própria ideia de saúde mental, quando ela é inviabilizada, inutilizada e brutalizada pela Guerra? 

A violência nos desumaniza, pois a Guerra é a mais completa encarnação dessa entidade chamada destrutividade, Thanatos. É urgente parar as guerras, é urgente construir um mundo de paz. Já existe consciência mundial quanto a isso. Do mesmo modo que milhões de pessoas estão envolvidas hoje em alguma forma de guerra/violência, há simultaneamente bilhões de outras pessoas buscando viver em paz. 

Elas buscam apenas a vida. Alimentação, moradia, saúde e garantias de não ser morto, não ser maltratado, não ser destituído de seus direitos. Poder trabalhar, amar e construir ambientes pacíficos, pequenos jardins de humanidade. Um mundo onde não haja excluídos. Os índios já o sabem fazer: vivem em coletivos que não excluem ninguém. No mundo todo, inúmeras comunidade aprenderam a viver em paz, ou pelo menos, pacificamente. 

Junto com Freud, podemos admitir que a destrutividade vive em nós. Porém, com ela convive Eros, o Amor. E é Eros quem deve prevalecer. Só o vínculo humano, a relação amorosa, pode contrabalançar e controlar Thanatos, a Morte, e seu representante pulsional: a violência. 

Todos nós somos violentos. Por dois motivos: por pertencermos e partilharmos da mesma humanidade, e porque a Pulsão de Morte é parte inerente de nossa constituição física e psíquica. Mas a libido, o amor narcísico e o amor objetal, o amor aos outros e ao conjunto da humanidade, tudo que se chama Eros, nos faz o campo de batalha, o teatro, ou a arena, onde a luta da vida acontece. 

Recusamos a morte dentro de nós. Todos os dias. Vencemos a morte e é por isso que nos mantemos vivos, ativos, trabalhando e construindo: através de nossos vínculos. Thanatos quer, permanentemente, desatar os laços, romper os vínculos. Precisamos lutar contra isso, sempre, e mais ainda agora diante dessa(s) guerra(s) macabra(s). 

Não à Morte, não à Guerra. Façamos nossa parte: denunciemos, vamos nos contrapor, nos comunicarmos, nos vincularmos, para barrar, para negar e para combater a morte. 

Hoje a Guerra ainda não é mundial. Mas pode chegar a ser. Por isso, já hoje, precisamos travar essa batalha mundial, pela paz, pelo convívio, pela sobrevivência, pela possibilidade de continuarmos nosso caminho de nos tornarmos mais e mais humanos. 

Quanto às nações desenvolvidas: não sejam hipócritas! A guerra não se interrompe com morteiros. A Guerra não termina (tal como o fogo) enquanto ela é alimentada. Ela é alimentada com armas, com bombas. E com mentiras, com hipocrisia, com negações pomposamente diplomáticas. É possível parar essa guerra insana (como todas as guerras, inclusive as que se dizem “guerras justas”), condenando a guerra. É preciso bloqueá-la, vaiá-la, opor-se com os poderosos canais da Escolha. 

Guerra, não. Não é assim que se resolvem os conflitos humanos. Já há muito tempo, muitos milhares de anos, nossos antepassados inventaram outra arma, muito melhor do que o porrete: a Palavra. 

A criação da linguagem falada, da comunicação humana, abriu as portas para a constituição de vínculos muito mais saudáveis e assim menos destrutivos, os vínculos familiares, grupais e comunitários. Precisamos defendê-los.  

Não se trata mais, só, de defender a Civilização ou a democracia, trata-se de defender o que nós temos de humano e não queremos, não podemos, perder. Nossa compaixão, nossa empatia, nossa compreensão, nosso amor: os bens mais elevados de Eros. Os vínculos que nos constituíram e que nos garantem como humanos. 

 

Lazslo A. Ávila 

 

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